N osso mundo está assolado pelo sofrimento. Apesar das habilidades tecnológicas da humanidade, parece que não conseguimos nem mesmo acabar com a fome ou a raiva humana. Ainda somos atingidos por terremotos, inundações e ciclones. Podemos curar muitas doenças, mas não podemos evitar a morte. Ainda lamentamos. Ainda sentimos medo e ansiedade. Ainda experimentamos tormentos mentais de vários tipos. Ainda odiamos e, com muita frequência, o ódio leva à violência.
A Bíblia nos diz que a dor e a tristeza entraram no mundo por causa da Queda. Após a desobediência de Adão e Eva, a vida deles se tornou difícil. Eva deveria experimentar dores de parto e Adão deveria enfrentar trabalhos penosos (Gênesis 3.16-17). A palavra Hebraica para “dor” nesses versículos é itzavon, e ela ocorre em apenas um outro lugar na Bíblia. Quando a mesma raiz Hebraica é usada como verbo, significa estar cheio de tristeza ou pesar. Assim, a dor causada pela Queda não é uma dor normal. (Há outra palavra Hebraica para isso.) Em vez disso, é uma dor que tem a tristeza em sua essência: um estado espiritual ou mental que se manifesta como dor física.
Portanto, a cura para essa dor causada pelo pecado, cheia de tristeza, é espiritual, não física.
Essa cura nos foi proporcionada pelo Servo Sofredor de Deus, que suportou nossas dores e carregou nossas tristezas (Isaías 53.3-4 BKJ) ou, em algumas traduções da Bíblia, nossa dor e nosso sofrimento. É interessante notar que, quando o escritor do Evangelho de Mateus cita Isaías, mostrando-nos que Jesus era esse Servo Sofredor, a ênfase está mais na dor e na doença do que na tristeza: “Ele tomou sobre si as nossas enfermidades e sobre si levou as nossas doenças” (Mateus 8.17). No versículo seguinte de Isaías, somos informados de que Ele também suportou todo o peso dos nossos pecados, que O transpassaram e O esmagaram.
A mensagem é que, na cruz, Jesus suportou por nós todo tipo de pecado e sofrimento, seja físico, mental ou espiritual.
Embora agora estejamos começando a nos preparar para a Sexta-Feira Santa e o Domingo de Páscoa, vamos nos lembrar por um momento do Natal. O simbolismo dos três presentes levados pelos Reis Magos ao menino Jesus é frequentemente mencionado, por exemplo, a mirra apontando para a morte devido ao seu uso para embalsamar corpos (Mateus 2.11; João 19.39). Mas a mirra também tem propriedades medicinais e curativas. Nos tempos antigos, ela era usada como analgésico. Ela também é um sedativo, produzindo uma sensação de calma e relaxamento.
Marcos nos conta que no Gólgota, pouco antes da crucificação, ofereceram a Jesus vinho misturado com mirra. Era uma tradição Judaica oferecer essa mistura, destinada a aliviar a dor e a entorpecer a mente para reduzir o sofrimento. Mas Jesus, nosso Salvador, recusou-a (Marcos 15.23). Ele sabia que tinha de suportar todos os pecados da humanidade, passados, presentes e futuros, em toda a sua amargura. Isso incluía toda a agonia, tanto da mente quanto do corpo, que os pecados produzem tanto no pecador quanto naquele contra quem se pecou. Sua mente deveria ser preenchida com a consciência de cada pecado já cometido ao longo da eternidade, como se cada um deles estivesse gravado em Sua memória simultaneamente. Ele não deveria evitar a angústia mental mais do que a agonia física ou a desolação espiritual.
Nunca poderemos compreender toda a profundidade e amplitude do que o Homem de Dores suportou por nós na cruz (Isaías 53.3). Mas vamos nos regozijar em Sua morte salvífica e ressurreição. Poderíamos cantar sobre o Homem de Dores com as palavras de um hino muito amado:
Homem de dores, que nome Para o Filho de Deus, que veio Pecadores arruinados redimir; Aleluia, que Salvador!
Mas talvez a coisa mais maravilhosa de todas seja o fato de que o Homem de Dores, agora nosso Senhor ressuscitado e glorificado no céu, ainda sente nossa tristeza e sofrimento, ainda chora quando choramos (João 11.33-35). Ele carrega todos os nossos fardos - se permitirmos.
DR PATRICK SOOKHDEO
Diretor Internacional, Ajuda Barnabas