Entendendo os Tempos - Lucas 21.5-32

Este esboço de sermão pode ser usado em um culto ou reunião pela Igreja Sofredora. Ele pode ser lido como está (você pode optar por omitir as referências da Bíblia entre parênteses). Você pode acrescentar algumas ilustrações próprias ou tirar algumas das informações nas páginas 8-14. Você também pode encontrar material útil no estudo Bíblico para pequenos grupos na página 18 ou no livreto devocional de oito dias. Como alternativa, o esboço pode ser usado como uma estrutura para suas próprias ideias e aplicações. Um PowerPoint para acompanhar o sermão pode ser baixado de barnabasaid.org/scaaw


 

1. Introducão

Vivemos em tempos de grande turbulência e extremos. Violência e guerra, inflação crescente levando sofrimento para aqueles que estavam confortáveis e miséria para aqueles que já eram pobres. Vemos extremos climáticos destrutivos e perigosos. Uma pandemia mortal assolou todo o planeta. Líderes políticos promotores de guerra parecem ter entrado em cena, seus temperamentos desgastados, prontos para um confronto, ateando fogo nos conflitos. A fome ressurgente ameaça bilhões de pessoas.

Como devemos, como seguidores de Cristo, entender o que está acontecendo em nosso tempo? Podemos ver os acontecimentos atuais de uma perspectiva eterna?

Em nossa leitura Bíblica de hoje, Jesus falou dos tempos conturbados que virão e advertiu Seus seguidores de dois perigos: (1) falsos mestres pregando falsas esperanças, e (2) dar lugar ao medo pensando no que está por vir (versículos 8-9). Jesus não queria que Seus seguidores sucumbissem nem à falsa esperança nem ao desespero sem fé. 

Pode ser que estejamos entrando em um tempo de grande provação. Se assim for, não devemos nos apegar à falsa esperança de que tudo será fácil para nós. Deus tinha palavras fortes de condenação para os profetas do Antigo Testamento que disseram “Paz, paz” quando não havia paz, quando na verdade Deus estava prestes a trazer o julgamento (Jeremias 6.14; Ezequiel 13.10).

Jesus nos oferece conforto - podemos ganhar nossas almas - mas primeiro devemos suportar e permanecer firmes. Devemos ter cuidado com o ensino de que tudo será fácil para os Cristãos, enquanto o resto do mundo sofre.  Não foi isto que Jesus disse. 

Embora o futuro seja difícil, não devemos ter medo.  Jesus disse a seus discípulos para não ficarem aterrorizados com as coisas terríveis que estavam por vir. O medo paralisante e o desespero sem fé são tão anticristãos quanto a determinação irracional de não acreditar que algo realmente ruim possa nos acontecer. 

Se a Igreja deve ser peneirada e refinada pelo sofrimento, devemos ser aqueles que permanecem firmes até o fim, não aqueles que desistem da fé. É necessário um discipulado maduro e sério. Não é hora para complacência. Devemos orar humildemente por discernimento e sabedoria para reconhecer a verdade em meio a todas as mentiras atraentes que estão sendo vendidas, inclusive aqueles que se apresentam como mestres Cristãos.

2. Calamidades de um mundo caido

A Queda - o primeiro pecado de Adão e Eva no Jardim do Éden - mudou tudo. A criação perfeita de Deus foi corrompida. A dor e o trabalho árduo entraram no mundo, como o Senhor Deus respondeu. Os efeitos desta onda se espalham por todas as áreas de nossas vidas hoje, e Satanás se regozija em criar caos e miséria. Mas não será assim para sempre. Mesmo antes de amaldiçoar a terra, Deus colocou em prática uma solução, um plano de salvação - o Senhor Jesus Cristo, que esmagaria Satanás (Gênesis 3.15). Pode-se dizer que o Cristianismo começou no Jardim do Éden. 

O prometido esmagamento de Satanás ocorreu na cruz, e Satanás está agora em sua agonia de morte. Mas ele ainda é capaz de arruinar e destruir. O motivo principal de algumas sociedades serem muito pobres ou corruptas; seu povo miserável, doente e faminto; nações em guerra; o planeta devastado por terremotos, enchentes e tempestades, é a Queda. Como mostrou nossa passagem Bíblica, estas coisas vão piorar. Mas o desenrolar da história está levando ao retorno de Cristo. A salvação está nos levando de volta ao Éden, nos levando de volta ao que fomos destinados a ser. 

“Nação se levantará contra nação, e reino contra reino”, Jesus advertiu seus discípulos (versículo 10). O nacionalismo é uma das principais causas de desarmonia e violência no mundo. Mas, como o apóstolo Paulo escreveu, nós Cristãos somos cidadãos do céu (Filipenses 3.20). Nossa lealdade principal não é a nenhum reino terreno, mas a Jesus, nosso Rei, e a Seu Reino. Nosso primeiro amor deve ser a Cristo e Seu Corpo, ou seja, Seu povo. 

3. Vivendo como cidadãos do céu

Se o Cristianismo transcende nação, raça, etnia, classe e casta, quais são nossas responsabilidades para com a nação terrena da qual somos cidadãos? É claro que devemos ser bons cidadãos de nossos próprios países, por exemplo, orando pelos que têm autoridade (1 Timóteo 2.1-2) e pagando nossos impostos (Mateus 17.27, 22.17-21). Devemos obedecer a todas as leis que não entram em conflito com as ordens de Deus (1 Pedro 2.12; 4.15), embora possa haver momentos em que devemos desobedecer às ordens humanas a fim de obedecer a Deus. Pouco antes do nascimento de Moisés no Egito, o Faraó ordenou a duas parteiras que matassem todos os bebês meninos que ajudassem a nascer de mães Hebréias, mas as parteiras tementes a Deus desobedeceram ao Faraó (Êxodo 1.15-21). 

Podemos ser um canal da bênção de Deus em nossas comunidades através de nossas orações e nosso cuidado amoroso pelos outros. Podemos ser sal e luz (Mateus 5.13-16) dando a conhecer o Evangelho e vivendo vidas piedosas, mesmo que isso seja contracultural. Por exemplo, poderíamos adotar um estilo de vida simples, devolver o troco se recebermos a mais em uma loja e nos recusarmos a mexer em nossas despesas no trabalho. Uma apoiadora do Barnabas na Irlanda do Norte, que trabalhava como faxineira para um empregador não Cristão, devolvia parte de seu salário se ela terminasse seu trabalho mais cedo.

Alguns de nós podem sentir um chamado de Deus para trabalhar para corrigir alguns dos erros, injustiças e males em nosso mundo de hoje, como, por exemplo, nossos antepassados Cristãos fizeram campanha para a abolição da escravidão. Considerando que estamos no mundo, mas não somos dele, até onde vamos na cooperação com não Cristãos para atingir esses objetivos? Até onde vamos no engajamento com o mundo essencial, mas um tanto obscuro, da política? Palavras sábias vieram do político Britânico Sir Stafford Cripps (1889-1952) que disse que a Igreja não deveria estar na política, mas insistiu que deveria haver mais Cristãos na política e mais Cristianismo nos políticos. Cada um de nós deve buscar em oração nossa própria resposta do Senhor sobre nosso próprio envolvimento. 

Algumas dessas escolhas e atividades podem nos expor ao ridículo ou pior. Mas vamos nos consolar com as palavras de Jesus:

Bem-aventurados os perseguidos por causa
da justiça,
pois deles é o Reino dos Céus.

(Mateus 5.10)

Devemos nos certificar, entretanto, de que não seremos perseguidos por nada, exceto por nosso comportamento semelhante ao de Cristo e por levar o Nome de Cristo (versículo 12). Seu Nome significa Seu poder, autoridade e singularidade como Filho de Deus e Salvador do mundo (1 João 4.14). Estamos identificados com Ele e falamos por Ele no mundo. Como diz um antigo hino,

Só a Jesus pertenço,
Jesus pertence a mim,
Por tempo que não findará
Tempo eternal sem fim.1

Está chegando um momento em que nós, que pertencemos a Jesus, seremos odiados por todos (versículo 17). 

4. Deus nos guardará

Em meio a tantos perigos, Jesus nos dá uma preciosa promessa: “Contudo nenhum fio de cabelo da cabeça de vocês se perderá” (versículo 18). Isto deve ter lembrado Seus discípulos ouvintes de um tempo antes, quando Ele os tinha assegurado que os próprios cabelos de suas cabeças estavam todos contados por Deus, para que eles não tivessem medo em tempos de perseguição (Lucas 12.6-7). No cuidado da providência, absolutamente nada nos acontece sem a vontade de Deus. 

Mas momentos antes (versículo 16) Jesus havia dito que alguns dos discípulos seriam condenados à morte. Ele está contradizendo a si mesmo? Claro que não. Sua promessa de preservação é sobre nossas almas, não sobre nossos corpos terrenos, que serão substituídos por corpos ressurretos (1 Coríntios 15.35-56). 

Para entender os tempos de perseguição, devemos perceber que são as nossas almas eternas que são importantes, não os nossos corpos temporários. “Não tenham medo dos que matam o corpo, mas não podem matar a alma.”, nos diz Jesus (Mateus 10.28). 

Visto desta perspectiva eterna, a necessidade de buscar justiça, liberdade e igualdade para nós mesmos enquanto Cristãos na Terra ocupa um lugar secundário. Estas coisas são boas em si mesmas, mas não são prioridades. Se os erros não forem corrigidos na Terra, eles serão corrigidos no céu.

Muitas pessoas se esforçam para prolongar ao máximo suas vidas físicas. Alguns indivíduos ricos tiveram seus corpos congelados após a morte, na esperança de que os futuros cientistas encontrem uma maneira de revivê-los. Mas com um entendimento espiritual adequado dos tempos, podemos resistir ao desejo de preservar nossos corpos e podemos abraçar os propósitos de Deus que nos guardará para toda a eternidade.

5. Vamos nos manter firmes até o fim

O versículo 19 é muito curto, mas nos diz uma verdade vital: se perseverarmos, ganharemos nossa alma. “Firme” é a palavra Grega hupomone (pronuncia-se u-po-mo-ne). Significa suportar dificuldades. É a perseverança produzida quando sofremos (Romanos 5.3), quando nossa fé é testada (Tiago 1.3) ou quando nos esforçamos para continuar vivendo uma vida piedosa em um mundo corrupto e imoral (2 Pedro 1.6). Com hupomone podemos ser como o apóstolo Paulo que não perdeu o ânimo apesar de suas muitas aflições e problemas (2 Coríntios 4.16). 

No Evangelho de Mateus, Jesus descreve um tempo futuro de perseguição quando os Cristãos estão se afastando da fé e traindo uns aos outros, os falsos profetas estão desviando as pessoas, a maldade está aumentando e muitos que costumavam amar ao Senhor não o fazem mais. 

Os tempos em que vivemos têm muitas semelhanças com o que Jesus descreveu. Mas, disse Jesus, “aquele que perseverar [hupomone] até o fim será salvo” (Mateus 24.13-14).

Peçamos a Ele que nos dê discernimento para entender nossos tempos, para que não sejamos enganados por falsos ensinamentos, e perseverança para nos capacitar a permanecer firmes até o fim.


 

1 Só a Jesus pertenço, Norman Clayton, 1943