“Esta garota estava apaixonada apenas pelo seu Cristo”
Q amar Zia achou sua nova escola Cristã cheia de surpresas. Por um lado, os professores eram tão amáveis e gentis. Por outro lado, ela se viu obrigada a estudar a Bíblia, embora, como Muçulmana, não gostasse nem mesmo de tocar no livro dos blasfemadores, como ela ouvia os Cristãos serem chamados.
Um dia, a classe foi instruída a memorizar partes de Isaías 53. Enquanto Qamar lutava com a tarefa, algo aconteceu, que ela descreveu mais tarde do seguinte modo:
Deus, por sua graça, mostrou-me que havia vida e poder neste livro. Então comecei a perceber que Jesus está vivo para sempre. Através de Isaías 53, o primeiro versículo, Ele me dizia com grande tristeza: “Quem creu em nossa mensagem e a quem foi revelado o braço do Senhor”? Agora eu sabia e acreditava nisto e que Seu braço havia sido revelado a mim. Eu sabia que este era o verdadeiro caminho.
Assim, Deus colocou fé em meu coração e eu acreditei em Jesus como meu Salvador e Perdoador de meus pecados. Somente Ele poderia me salvar da morte eterna. Só então comecei a perceber como eu era uma grande pecadora, enquanto que antes eu pensava que minha boa vida poderia me salvar.
Agora, um poder vivo começou a trabalhar em mim. Quando Satanás tentava me pegar com suas redes e correntes, eu podia resistir a ele lendo o Novo Testamento e confiando em Cristo. Às vezes, Jesus me dizia como Ele disse a Marta: “ Marta! Marta! Você está preocupada e inquieta com muitas coisas; [...] Maria escolheu a parte boa parte, e esta não lhe será tirada.”
Logo Qamar estava ganhando todas as premiações das Escrituras em sua escola.
Quando Qamar tinha 17 anos, a Índia conquistou sua independência e o Paquistão se tornou a pátria dos Indianos Muçulmanos. A família de Qamar mudou-se de Madras (hoje Chennai) no sul da Índia para Carachi, então capital do Paquistão. Ela ainda não havia contado à sua família sobre sua fé Cristã, e não podia levar sua Bíblia com ela. Mas ela conseguiu comunicar à sua antiga escola em Madras onde ela estava e eles providenciaram que Marian Laugesen, uma missionária da Nova Zelândia em Carachi, fosse visitar Qamar. Marian pôde levar a Qamar um Novo Testamento, sem que a família visse, e quando, logo depois, a família se mudou novamente, Qamar levou seu Novo Testamento consigo. Durante sete anos aquele Novo Testamento foi seu único apoio espiritual, pois ela não conheceu outro Cristão ou teve qualquer outro livro Cristão.
Como era costume, sua família começou a organizar um casamento para ela - naturalmente seria com um Muçulmano. Mas Qamar sabia que ela nunca poderia viver como uma Cristã se tivesse um marido Muçulmano, então no dia 18 de junho de 1955 ela fugiu de casa. Ela encontrou Marian e ficou no orfanato onde Marian trabalhava. Foi aparentemente nesta época que Marian deu a Qamar o nome de Esther John.
Em poucos dias, a família de Esther descobriu seu paradeiro e a persuadiu a visitar sua mãe viúva que estava doente. Quando Esther chegou, a família começou a acelerar os planos para o seu casamento. Esther fugiu novamente, mudando-se centenas de quilômetros ao norte no Punjab, onde ela morava na casa das enfermeiras em um hospital Cristão em Sahiwal. Ajudando no hospital, ela se encantou em servir aos outros e em compartilhar sua fé. Ela ficou conhecida por seu canto e senso de humor, muitas vezes contando histórias sobre seus próprios percalços.
Mais tarde naquele ano Esther foi batizada na sala de oração das enfermeiras pelo pastor local, Padri Alexander David, que falou com ela sobre o versículo “E eu te desposarei em fidelidade, e tu conhecerás ao Senhor” (Oséias 2.20 BKJ). Mais tarde ele escreveu sobre aquele dia: “Eu disse a ela que ela não pertencia a ninguém neste mundo, mas apenas a Cristo que morreu na Cruz por ela e a desposou para Si mesmo para todo o sempre.”
Esther estava disposta a se casar com um Cristão, e deixou a equipe do hospital tentar encontrar um marido para ela. Eles se aproximaram de três famílias, mas em vão. Esther nunca (conscientemente) sequer conheceu nenhum dos jovens escolhidos.
Esther sentiu por algum tempo que Deus queria que ela ensinasse a Bíblia. “Este livro tem um grande poder. Quero vê-lo fazer pelos outros o que ele fez por mim”, disse ela aos amigos. Depois de três anos na faculdade Bíblica, ela foi para Chichawatni, uma pequena cidade perto de Sahiwal. Lá ela viveu na casa de um casal de missionários Americanos idosos, Dale e Janet White, e percorreu os vilarejos com Janet, evangelizando.
Enquanto isso, a família de Esther continuava escrevendo para ela, insistindo para que ela voltasse para casa, e arranjou mais casamentos para ela, os quais ela recusou. Mas Esther ansiava ver sua mãe, e depois do Natal de 1959 escreveu uma carta para sua família dizendo que ela iria para casa sob duas condições: ela deveria ter permissão para viver como Cristã e não deveria ser forçada a se casar. Nenhuma resposta veio.
No dia 1º de fevereiro de 1960, a reunião mensal noturna de pastores e evangelistas locais foi realizada na casa dos White, os homens dormiam em vários quartos com colchas e cobertores. Na manhã seguinte, Esther foi encontrada morta em sua cama, seu crânio esmagado duas vezes por um instrumento pesado e pontiagudo.
A polícia suspeitou que um pretendente decepcionado a tivesse matado e vasculhou a casa em busca de evidências. Eles examinaram os livros e papéis de Esther, mas depois disseram a Dale: “Senhor, não encontramos nenhuma pista. Esta garota estava apaixonada apenas por seu Cristo.”
O assassino de Esther nunca foi encontrado, mas acredita-se que um de seus irmãos a matou, a fim de restaurar a honra da família. O ato de deixar o Islã é considerado uma grande vergonha para uma família Muçulmana.
A história de Esther John aparece no livro de Patrick Sookhdeo de 366 leituras devocionais diárias sobre mártires Cristãos, Heroes of Our Faith (Heróis da Nossa Fé) Vol. 1 (Isaac Publishing, 2012, segunda edição 2021, ISBN 978-1-9524501-2-9) veja o dia 2 de fevereiro.
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Uma versão mais longa de sua história pode ser encontrada em The Terrible Alternative: Christian Martyrdom in the Twentieth Century (A Alternativa Terrível: O Martírio Cristão no Século XX) editado por Andrew Chandler (Cassell, 1998). Veja o capítulo “Missão e conversão no Paquistão: Esther John (Qamar Zia)” de Patrick Sookhdeo (p.102-116).