Leia aqui a carta da Baronesa Caroline Cox publicada pelo jornal The Guardian (no dia 18 de setembro de 2023) alertando para o iminente genocídio em Alto Carabaque causado pelo brutal bloqueio do Azerbaijão ao Corredor de Lachin. A Baronesa Cox é patrocinadora do Ajuda Barnabas e fundadora do Humanitarian Aid Relief Trust (Fundo de Ajuda Humanitária).
Senhor,
Regressei, com o coração partido, ontem à noite, da Armênia, onde me encontrei com Armênios que sofremam deslocações forçadas pelo Azerbaijão da sua terra natal, Alto Carabaque; outros Armênios que vivem no medo imposto pela atual invasão e ocupação do território soberano Armênio pelo Azerbaijão; ouvi relatos sobre a contínua detenção de Armênios como reféns pelo Azerbaijão; testemunharam, inclusive através de ligações ao vivo com as pessoas que se encontram em Alto Carabaque, o grave sofrimento infligido pelo Azerbaijão aos civis Armênios de Alto Carabaque através do seu brutal bloqueio, desde o último mês de dezembro, do Corredor de Lachin - a única rota internacionalmente reconhecida para o fornecimento de alimentos, causando graves problemas de saúde devido à fome em massa, incluindo o risco de desnutrição grave para 30.000 crianças, o que pode causar um atraso irreversível na sua evolução física e mental.
Eu e os colegas que viajavam comigo conhecemos civis na cidade Armênia de Goris, que nos descreveram como vivem em constante receio de ofensivas militares por parte de uma visível instalação militar Azeri, vista pelos nossos próprios olhos, instalada dentro das fronteiras internacionalmente reconhecidas da Armênia. E nos falaram da contínua detenção de Armênios pelo Azerbaijão, em violação grosseira a um acordo de cessar-fogo de 2020.
Tiramos fotografias da grande quantidade de caminhões de ajuda retidos na fronteira e das bases militares do Azerbaijão localizadas ilegalmente dentro da Armênia.
A política brutal de fome do Azerbaijão "é a arma invisível do genocídio", segundo o primeiro Procurador-Geral do Tribunal Penal Internacional, Luis Morena Ocampa. No início deste mês, o representante do Presidente do Azerbaijão, Elchin Amirbayov, ameaçou, em entrevista à Deutsche Welle, que "poderá ocorrer um genocídio" em Alto Carabaque se os seus dirigentes não se submeterem às exigências do Azerbaijão. De acordo com o direito internacional, tais políticas exigem uma reação urgente da comunidade internacional. Mas até agora, como pude testemunhar, não houve uma resposta efetiva e o sofrimento infligido pelo Azerbaijão continua sem parar.
O que grande parte do mundo está optando por ignorar é nada mais nada menos do que um cerco de estilo medieval que está sendo cometido pelo maléfico regime de Aliyev do Azerbaijão, no século XXI, contra mulheres, crianças e homens inocentes. O único crime que essas pessoas inocentes cometeram foi o de incorrer no ódio pessoal do Presidente Aliyev e do seu regime. Esse regime não é mais bondoso para muitos dos seus próprios cidadãos do que é para qualquer outra pessoa que incorra na sua ira. Representa a pior forma de intimidação, perseguição e repressão de qualquer pessoa que ouse ficar em seu caminho. Todos os que o fazem estão sujeitos aos mais flagrantes abusos dos seus direitos humanos.
Temos de perguntar ao Governo do Reino Unido quando e como vai cumprir com a sua responsabilidade, nos termos do direito internacional, de impedir o genocídio e como vai responder, de forma significativa e imediata, através das suas próprias ligações ao regime de Aliyev, para salvar vidas humanas. Temos também que pedir aos parceiros econômicos do regime de Aliyev que examinem as suas consciências e reflitam sobre as consequências a longo prazo para eles do fornecimento de dinheiro e de outros apoios que permitem que este regime, mesmo ao ponto de cometer genocídio, funcione no nosso mundo de hoje.
Baronesa Cox
Membro Independente da Câmara dos Lordes