Recentemente, vi a foto de uma bebê com um grande curativo sobre um ferimento à bala nas costas. Ela tinha um ferimento semelhante no peito, pois a bala atravessou a bebê e atingiu sua mãe, que foi morta. Seu pai, quatro de seus irmãos e cerca de 25 outros Cristãos do vilarejo também morreram no mesmo ataque em 16 de maio de 2023 no estado de Plateau, na Nigéria. A bebê de oito meses sobreviveu, embora provavelmente nunca mais consiga andar. Seu nome é Precious.
Esse exemplo ilustra nosso mundo atual - um mundo assolado por guerra, violência gratuita e conflitos; um mundo em que os problemas são resolvidos com um facão ou uma arma; um mundo em que a vingança e a retaliação são normais; um mundo em que a morte de um inimigo nunca é lamentada. É um mundo cada vez mais sem humanidade, perdão ou misericórdia.
Ao entrarmos em um novo ano em um mundo assim, há uma sensação de desesperança. Vemos os inocentes sofrerem e morrerem, inclusive nossos irmãos e irmãs em Cristo. A família da bebê Precious morreu porque era Cristã.
Vemos forças poderosas sendo desencadeadas contra os fracos e vulneráveis. Ouvimos falar de “danos colaterais” como se perder vidas humanas para alcançar objetivos político-militares fosse o curso óbvio de ação. Uma geração de jovens adultos, cujas mentes foram moldadas por jogos de computador de bombardeios e tiroteios, está assumindo posições de liderança. Ideologias admiradas trazem caos e destruição.
A Bíblia frequentemente nos diz que nosso Deus é um Deus de justiça e de misericórdia. A misericórdia é uma ação fundamentada na compaixão e no perdão. Uma das palavras Hebraicas para “misericórdia” tem a ver com uma mãe que protege e sustenta o bebê ainda não nascido em seu ventre. Que imagem maior de misericórdia pode haver? A misericórdia não é fraqueza, embora o mundo possa interpretá-la dessa forma.
Jesus contou uma parábola sobre um servo sem misericórdia (Mateus 18.21-35), que foi perdoado de uma dívida enorme por seu senhor, mas não perdoou uma pequena dívida de um outro servo. Ele atacou fisicamente o homem e depois o mandou para a prisão.
Sabemos que o mundo frequentemente se comporta assim, mas e quanto a nós, Cristãos? Será que somos diferentes? Nossos pecados foram perdoados por um tremendo ato de misericórdia quando Deus enviou Seu Filho para morrer por nós. Temos misericórdia de nossos semelhantes pecadores? Ou usamos nossas posições de poder para nos vingar daqueles que nos prejudicam, causando dor e sofrimento sem fim, exatamente como o mundo tende a fazer?
A misericórdia é uma ação fundamentada na compaixão e no perdão
Jesus também disse: “Bem-aventurados os misericordiosos, pois obterão misericórdia” (Mateus 5.7). Demonstrar misericórdia é uma ordem divina.
Será que nós, que recebemos a misericórdia de Deus, podemos ser duros de coração, frios e indiferentes? Se o Deus de misericórdia não tivesse olhado com misericórdia para nós, onde estaríamos? Então, como podemos nos juntar ao coro daqueles que clamam por sangue sem pensar naqueles que sofrem? Não deveríamos clamar por misericórdia, por mais impopulares que isso possa nos tornar? Não deveríamos exortar nossas igrejas, nossos estadistas e nossos militares a serem misericordiosos? Caso contrário, perderemos nossas próprias almas.
Cada criança, cada mulher e cada homem é criado à imagem Divina e é amado por Deus. Suas vidas são sagradas e preciosas. No entanto, estamos gradualmente perdendo a consciência por causa da violência que vemos em nossas telas, sejam elas reais, fictícias ou virtuais. Se perdermos nossa consciência, perderemos nossa humanidade.
Quem pode restaurar nossas almas perdidas e a humanidade perdida senão o próprio Jesus Cristo? É somente em Jesus Cristo que encontramos o perdão perfeito, que transcende o ódio e a inimizade. Que Ele seja nosso guia ao entrarmos neste novo ano.
DR Patrick Sookhdeo
Diretor Internacional, Ajuda Barnabas
Extraído da revista Ajuda Barnabas, Janeiro-Fevereiro 2024